Muito tempo sem postar. Imperdoável. Mas para me redimir com meus leitores assíduos (você e mais um ou dois), reproduzo aqui um texto de um cara que cria e escreve como ninguém. Não, não falo de Nizan, Washington ou Mohallem. Trata-se de Chico, simplesmente Chico.
“Meus ombros se retesavam não pelo que eu via, mas no afã de captar ao menos uma palavra. Palavra? Sem a mínima noção do aspecto, da estrutura, do corpo mesmo das palavras, eu não tinha como saber onde cada palavra começava ou até onde ia. Era impossível destacar uma palavra da outra, seria como pretender cortar um rio a faca. Aos meus ouvidos o húngaro poderia ser mesmo uma língua sem emendas, não constituída de palavras, mas que se desse a conhecer só por inteiro.”
Estou na página 19, pela terceira vez. Já li outras duas vezes o “Budapeste” de Chico Buarque de Holanda. A maravilhosa história de um ghost writer carioca que se encanta pela palavra húngara. Um romance à altura do Chico de Roda Viva, Folhetim e tantas outras letras memoráveis. Como escrevi no quadro um dia desses numa aula daquelas: o mundo não começa quando a gente nasce. Para escrever um anúncio, não basta ler Nizan. Simples assim.