06 janeiro 2011

Sobre vida e imagem social




Vida social. Teve um tempo em que para se ter uma vida social era preciso sair de casa todas as noites, ou nem voltar pra casa. Frequentar barzinhos descolados com turmas idem, festas de aniversários, formaturas, coquetéis e afins.

Imagem social. Hoje tudo está diferente. Basta um perfil aqui, um login ali, uma URL acolá. Tudo isso sem precisar tirar a bunda da cadeira.

As redes sociais chegaram para revolucionar as relações interpessoais. O Facebook faz o que a gente nunca conseguiu na vida real: contar amigos. O Twitter cumpre o papel do bom e velho boca a boca. E por aí vai. E vamos sem sair do lugar.

A turma de amigos que se reunia na esquina foi substituída pelas comunidades virtuais. E você passa a fazer parte de comunidades que nem sabia que existiam. E mais: às vezes você é o motivo da comunidade.

A vida social foi substituída pela imagem social. Sinal dos tempos, não tão simples assim.

04 dezembro 2010

Paixão rima com marketing esportivo

Este post não é sobre futebol. É sobre paixão. Mas se você prefere ver por um lado técnico, pode encarar as próximas linhas como uma aula de marketing esportivo.

Para quem não sabe, o Internacional, de Porto Alegre, embarca na próxima quarta-feira, 08, para Abu-Dhabi, onde tentará conquistar o BiCampeonato Mundial Interclubes da FIFA.

E já virou tradição colorada perpetuar suas conquistas com belos e épicos filmes documentários. Foi assim no Mundial de 2006, na Copa Dubai em 2007, e, mais recentemente, no Centenário do Inter, com o emocionante Nada Vai nos Separar.

Agora, às vésperas do embarque para as arábias, o Inter, mais uma vez, mobiliza a alma colorada com um filme de arrepiar. E uma iniciativa de marketing de fazer inveja.


Na véspera do embarque, o Inter promoverá, no Gigante da Beira-Rio, a pré-estréia do filme Absoluto – Inter Bicampeão da América. A proposta é realizar a maior apresentação de cinema do mundo. A torcida vai lotar o Gigante, assistindo ao filme em um telão especial de 120 metros quadrados e projeção digital de alta tecnologia.

Os jogadores, que embarcam para Abu-Dhabi no dia seguinte estarão lá, respirando a conquista, incorporando a garra colorada em seu DNA, entupindo os poros com o suor vermelho de tantas lutas e conquistas.

Estarão lá, também, ídolos do passado distribuindo nostalgia e autógrafos. Galeria de fotos, venda de livros colorados, e feira de licenciados.

O marketing rubro transforma uma despedida para uma viagem em evento histórico e eletrizante. Uma despedida de cinema, como promete o cartaz do espetáculo.

Como reza o hino riograndense, “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra!”.

03 novembro 2010

Mistura tudo aí!



Vou começar o post falando de propaganda, afinal este sempre foi o assunto central deste blog. E, por falar em propaganda, diga aí: qual a última vez que você viu um comercial genial no ar? Tudo bem, para facilitar, vale citar anúncio de jornal ou revista. Só não vale aqueles anúncios fantasmas da Archive.

Talvez você cite um ou outro comercial do Itaú, Renner ou de uma cerveja qualquer. Produção impecável, trilha idem. Mas e a ideia? É genial mesmo?

Se você não lembra nada assim tão criativo, empatou comigo. Eu não lembro e, pior, não tenho feito nada parecido. A propaganda brasileira está em crise. E o mais curioso é que isso acontece em um momento em que os investimentos publicitários aumentam.

De quem será a culpa? Criativos? Atendimento? Donos de agências? Clientes?
A culpa é geral. Total. Universal. Eu já li explicações de que as coisas estão assim, ideias acomodadas na vala comum, por que este é um ano eleitoral. Então tá. Vamos esperar que a presidente (ou presidenta, os dois termos são válidos, mas o primeiro confere mais pompa ao cargo) resolva tudo a partir de primeiro de janeiro, e ela mesma trate de criar uns comerciais mais legais. Por que nós, publicitários, não sabemos mais como se faz.

Falando nisso, entramos no segundo assunto do post: a política. Um aluno lá da Estácio, o Jefferson Borba, tuitou um dia desses que não se pode esperar muito de um povo que precisa de uma lei que o impeça de votar em bandidos. Nem preciso falar mais. Mas vou falar.

Deu Dilma, já era previsível pelas pesquisas e por todo o apoio do Lula. Aliás, o presidente foi multado várias vezes durante a campanha. Dá para acreditar em um país onde o presidente é multado por que não cumpre a lei? Nem preciso falar mais. Mas vou falar.

Acho que faltou mais garra na campanha do Serra. O Daniel Passarela, quando era técnico da seleção argentina disse a seus jogadores: “Hay que tener gana de glória”. Senti falta de brilho nos olhos do Serra. Senti falta de palavras fortes, de indignação, de entonação. Tudo aquilo que a gente exige do locutor quando grava um spot que vende emoção.

Agora é Dilma. Eu tentei fazer a minha parte. Faltou a parte dos meus irmãos do norte e nordeste. Mas muitos deles são assalariados do bolsa-família. E isso já é outro assunto.

Falando em assunto, vou mudar o foco. Agora, vou falar de futebol. Quem não gosta, pode mudar de canal.

Espere! Decidi não falar de futebol. Os interessados nesse assunto podem acessar meu outro blog, no Pontape.net

08 outubro 2010

Mergulhado na política

Como você deve ter percebido, este blog ficou entregue às moscas durante um longo período. A razão é uma só: absoluta falta de tempo. Em meados de julho, fui convidado a trabalhar em uma campanha política, para governador de Santa Catarina, coordenando o conteúdo da internet. Quem já trabalhou em campanhas politicas sabe que, geralmente, trata-se de um convite irrecusável por muitos motivos. Foi o caso.

Porém, para aceitá-lo, tive que me desligar da Univali, onde ministrava uma disciplina. E também tive que abrir mão de uma turma da Estácio de Sá. E também fui obrigado a me afastar momentaneamente da DBS. Reviravolta total na rotina.

Se valeu a pena? Acho que sim. Foram dois meses pensando e discutindo política, acompanhando portais de notícias, jornais, blogs, twitters e comunidades na web. O raciocínio criativo na política é completamente diferente do pensamento publicitário. É sempre um bom exercício. Nem sempre uma ideia criativa é a melhor solução. Tudo tem seu aspecto político, que deve ser muito bem analisado.

Na dúvida, não ultrapasse. Esta é a lei numa campanha política. Não corra riscos, principalmente se o seu candidato está na frente, ou caminha para a liderança. Uma frase em falso e podem cair alguns pontos na pesquisa. Uma foto mal escolhida e lá se vão algumas centenas de eleitores.

Ficamos em estado de alerta 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante dois meses. Mas valeu! E não apenas por que nosso candidato - ou cliente? - ganhou. Valeu, principalmente, por ter aprendido bastante. E, acredite, aprender é a experiência mais rica que existe.

31 agosto 2010

Eu só queria comprar um shampoo


Isso mesmo. Eu só queria comprar um shampoo e perdi exatos 6 minutos na frente da gôndola do supermercado. Andando de um lado para o outro. Olhando um a um. Examinando um a um. Lendo o rótulo de um a um.

Em outros tempos era bem mais fácil. Lembro que havia apenas shampoo para cabelos secos, oleosos ou normais. Cabelos normais, esse é o problema de hoje em dia. Onde estão os shampoos para cabelos normais? No sábado, eu só queria comprar shampoo para cabelos normais.

E encontrei shampoo disciplinador, shampoo anti-esponjante, shampoo para cachos molhados, shampoo para lisos perfeitos, shampoo sem sal, shampoo para cabelos tingidos, shampoo para isso, shampoo para aquilo e shampoo para não sei mais o quê.

O tempo passando, e eu ali, em frente à gôndola, quase arrancando meus humildes cabelos normais. Confesso que já estava um pouco envergonhado, afinal em plano 2010 eu ainda tenho cabelos, simplesmente, normais.

Tenho culpa se meu couro cabeludo se manteve no século XX? Tenho culpa se meus cabelos não são esponjantes? Ah, que saudade do tempo em que se “lavava a cabeça” com sabão de coco. Era tudo mais simples, até o marketing.

27 agosto 2010

Marcas, candidatos e redes sociais

Em época de campanhas eleitorais, volta com força o assunto Redes Sociais. Todos os candidatos majoritários estão lá, seja em níveis estaduais ou mesmo federal. Blogs, Twitters, Flickrs, Orkuts, Facebooks, Canais no Youtube e redes Nings são as ferramentas preferidas.Alguns utilizam com boas estratégias, usando a linguagem de cada ferramenta. Outros, nem tanto.

Não é de hoje que as redes sociais são apontadas como uma tendência complementar para ações empresariais. Na verdade, uma tendência que se transforma cada vez mais em realidade. O consumidor, ou eleitor, já está lá como prova o Instituto Nielsen, que revelou que 86% dos usuários de internet utilizam as redes sociais.

Hoje em dia, ter um perfil no Twitter, Facebook ou Linkedin já deixou de ser um passatempo. A coisa ficou séria, profissional. Marcas famosas, e outras nem tanto, estão experimentando este relacionamento virtual. As redes sociais aproximam as marcas de seus consumidores, os candidatos de seus eleitores. As redes sociais humanizam a empresa, e deixam os candidatos com jeito e sentimento de pessoas como a gente.

São vias de mão dupla. Se por um lado as pessoas podem falar, opinar, sugerir ou queimar o filme de alguma marca ou candidato, por outro lado estes podem usar as redes sociais como um grande observatório da realidade.As redes assumem a função de ferramentas de consultoria, afinal trazem para a empresa/candidato a opinião sincera das pessoas. E nada melhor do que ouvir o nosso cliente.

As pessoas estão ávidas por relacionamento transparentes, querem opinar, querem e ser ouvidas. Elas querem compartilhar sentimentos e experiências. E as redes sociais entram nessa como uma luva. One-to-one. Cara a cara. Fala que eu te escuto!

Mas a grande questão é: antes de qualquer ação é preciso definir o objetivo. Afinal, o quê se busca? O quê se quer? Qual o resultado pretendido? Pois é, não basta fazer. Tem que planejar. Simples assim.

01 agosto 2010

Eu quero ler, mas eles não deixam


Esta frase do título é real e ouvi de um cidadão comum (aquela espécie humana que não é publicitário) no momento em que ele tentava ler um anúncio.

O “eles” da frase se referia, claro, aos publicitários.

Agora, a minha contribuição: o Eloy Simões tem razão, os redatores estão mesmo sendo maltratados pelos diretores de arte. Ou melhor, os textos estão sendo maltratados.

Um dia desses, vi um bom título em um outdoor sobre doação de órgãos. Mas o subtítulo, que trazia o mote da campanha, era completamente invisível. Isso mesmo, invisível. Somente na terceira vez em que passei em frente ao outdoor pude notar que havia uma frase a mais. Consegui ler a tal frase na quinta vez em que passei por ali.

Estão sacrificando a leitura do texto em prol do equilíbrio do layout. Estão diagramando frases e textos sem uma leitura prévia. Corpo 8 já é considerado um luxo. O texto está pequeno? Deixa eu dar um zoom e você verá que está bom.

O problema é que o consumidor não tem a ferramenta de zoom. O problema é que as pessoas não compram uma revista para olhar os anúncios. O problema é que as pessoas não ficam procurando outdoors pelas ruas.

Já é muito difícil atrair a atenção das pessoas para os nossos anúncios. Já é muito difícil fazer com que elas leiam nossas mensagens comerciais. E nós, os publicitários, ainda dificultamos tudo, colocando textos ilegíveis.

Por isso, eu falo tanto sobre a ditadura do visual em sala de aula.

17 julho 2010

Uma crônica atrasada da Copa.


Esta Copa do Mundo fez lembrar a minha pré-adolescência. Turma reunida na esquina lá na Zona Norte de Porto Alegre, alguns calçando tênis barato, outros de pés descalços. Mas todos com um só pensamento e uma grande vontade: jogar futebol.

Naquela época ainda jogávamos no meio da rua, uma rua com paralelepípedos irregulares e recém colocados. Pode-se dizer que não era o piso ideal para uma bola rolar. Muito menos para solas de pés descalços.

Tínhamos disposição e jogadores em número suficiente para dois ou mais times. Mas nem sempre tínhamos a bola. E não éramos exigentes, qualquer bola servia. De couro muito gasto pelo constante atrito com as pedras, de borracha ou mesmo de plástico. Cheias ou furadas. Aquelas bolas coloridas de plásticos quando furavam ficavam ovais, e reagiam com desobediência aos nossos passes ou chutes. Mas não importava. Eram bolas. Necessárias e indispensáveis bolas.

O problema é que, de vez em quando, nem estas bolas velhas e furadas nós tínhamos. E sem bola, não adianta a vontade, não adianta a disposição, não adianta nem o talento. Sem bola não se consegue jogar futebol.

Talvez tenha sido esta a filosofia de jogo da seleção da Espanha, a campeã da Copa da África. Uma estratégia básica: ficar com a posse da bola o maior tempo possível. Trocar passes sem pressa, sem erros. Porque, sem a bola, o outro time não consegue jogar. Simples assim.

11 julho 2010

As coincidências da vida.


Na semana passada, morreu Ezequiel Neves. O Zeca Jagger. Um célebre desconhecido para a geração 2.0. Mas um nome e uma alcunha que significam música e loucura para quem viveu pelo menos metade da vida irremediavelmente unplugged.

Ezequiel, para quem não sabe, era jornalista sem nunca ter sido. Feroz crítico de música, incansável produtor musical, alucinado amigo e mentor do Barão Vermelho e de Cazuza.

Você já deve ter ouvido falar de Cazuza. Já deve ter ouvido pelo menos uma das suas tantas músicas geniais. Cazuza marcou uma geração do rock nacional. Mais do que isso, marcou para sempre a música brasileira.

Semana passada, completou-se 20 anos desde a morte precoce, mas sempre perigosamente perseguida, de Cazuza. O poeta flertava com a morte, levando sua vida na mesma batida louca de suas canções. Exagerado, ele era mesmo exagerado.

E, por essas coincidências que insistem em nos visitar, o criador Ezequiel Neves morreu exatamente no mesmo dia em que todos lembravam os 20 anos da morte de sua mais genial criatura.

A foto de Cazuza está aqui na minha frente, debochadamente rindo de tudo isso.

A vida brinca com a gente.

05 junho 2010

Sequelas.

Quinta-feira. Feriado. Sol. Grama alta. Tudo perfeito para botar a máquina de cortar grama pra funcionar. Quer dizer, quase perfeito. Não fosse uma minúscula e despercebida vespa escolher minha mão esquerda para depositar seu veneno.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Lembro de uma, no verão de 2009, que pousou em meu lábio e o deixou maior que celebridade decadente com excesso de botox.

Mas desta vez foi diferente. A dor foi igual, mas as conseqüências muito piores. Poucos minutos depois da picada na mão, senti o rosto formigando. Também as pernas, as solas dos pés. O corpo começou a esquentar. Coceira generalizada.

Mas se fosse somente coceira, um banho resolveria. E não era. Uma leve tonteira. Deitei no sofá. A Lua sempre perto de mim. Não me largava. Levantei, com a Lua colada. Fui para o pátio de novo. Caminhei de um lado para o outro. Sensação estranha. Um pouco de medo, sem saber o que estava acontecendo.

Resolvi ligar para a Graça, que tinha saído de carro. Pedi para trazer um antialérgico qualquer. Ela estava no mercado, pertinho, aqui nos Ingleses. Veio correndo, não com um antialérgico, mas com o firme propósito de me levar para uma clínica médica.

A Laitano fica a uns 5 minutos de casa, de carro. Fui de carona, completamente cego. Já não via mais nada, tudo branco. Cegueira branca, como escreveu Saramagno.

Cheguei na clínica. Caminhei apoiado até a entrada. Não consegui tirar o cartão da Unimed da carteira. Lembro que me deixaram entrar direto para o atendimento.

Não lembro de muita coisa que aconteceu depois. Disseram que desmaiei duas vezes. Que caí no chão. Lembro de algo como me sentir saindo do corpo. De sentir uma leveza.

Lembro de abrir os olhos e o médico perguntar meu nome. Perguntar onde eu estava, e ele mesmo responder: você está no céu. Disse isso e sorriu, com uma cara de preocupado.

Colocaram em mim uma máscara de oxigênio. Ligaram fios no meu corpo. Deitado, enxergava o monitor do aparelho sobre a minha cabeça. Números e linhas sinuosas.

O médico tirou o aparelho de oxigênio e resolveu ele mesmo usar uma bomba manual. Continuou por alguns minutos assim, bombeando ar para os meus pulmões. Senti uma agulha, era injeção de adrenalina. Senti outra agulha, agora no braço. Soro e Fenergan.

Aos poucos comecei a raciocinar. E guardo as palavras, agora de um médico mais tranquilo: desta você escapou, mas foi questão de minutos. O choque anafilático, pela alergia à picada de vespa, foi poderoso.

Aquela vespa minúscula e anônima deixou como sequela uma certeza: na vida não existem problemas, se há vida.