
06 janeiro 2011
Sobre vida e imagem social

04 dezembro 2010
Paixão rima com marketing esportivo
03 novembro 2010
Mistura tudo aí!

08 outubro 2010
Mergulhado na política

31 agosto 2010
Eu só queria comprar um shampoo

27 agosto 2010
Marcas, candidatos e redes sociais

01 agosto 2010
Eu quero ler, mas eles não deixam
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Esta frase do título é real e ouvi de um cidadão comum (aquela espécie humana que não é publicitário) no momento em que ele tentava ler um anúncio.
O “eles” da frase se referia, claro, aos publicitários.
Agora, a minha contribuição: o Eloy Simões tem razão, os redatores estão mesmo sendo maltratados pelos diretores de arte. Ou melhor, os textos estão sendo maltratados.
Um dia desses, vi um bom título em um outdoor sobre doação de órgãos. Mas o subtítulo, que trazia o mote da campanha, era completamente invisível. Isso mesmo, invisível. Somente na terceira vez em que passei em frente ao outdoor pude notar que havia uma frase a mais. Consegui ler a tal frase na quinta vez em que passei por ali.
Estão sacrificando a leitura do texto em prol do equilíbrio do layout. Estão diagramando frases e textos sem uma leitura prévia. Corpo 8 já é considerado um luxo. O texto está pequeno? Deixa eu dar um zoom e você verá que está bom.
O problema é que o consumidor não tem a ferramenta de zoom. O problema é que as pessoas não compram uma revista para olhar os anúncios. O problema é que as pessoas não ficam procurando outdoors pelas ruas.
Já é muito difícil atrair a atenção das pessoas para os nossos anúncios. Já é muito difícil fazer com que elas leiam nossas mensagens comerciais. E nós, os publicitários, ainda dificultamos tudo, colocando textos ilegíveis.
Por isso, eu falo tanto sobre a ditadura do visual em sala de aula.
17 julho 2010
Uma crônica atrasada da Copa.

Naquela época ainda jogávamos no meio da rua, uma rua com paralelepípedos irregulares e recém colocados. Pode-se dizer que não era o piso ideal para uma bola rolar. Muito menos para solas de pés descalços.
Tínhamos disposição e jogadores em número suficiente para dois ou mais times. Mas nem sempre tínhamos a bola. E não éramos exigentes, qualquer bola servia. De couro muito gasto pelo constante atrito com as pedras, de borracha ou mesmo de plástico. Cheias ou furadas. Aquelas bolas coloridas de plásticos quando furavam ficavam ovais, e reagiam com desobediência aos nossos passes ou chutes. Mas não importava. Eram bolas. Necessárias e indispensáveis bolas.
O problema é que, de vez em quando, nem estas bolas velhas e furadas nós tínhamos. E sem bola, não adianta a vontade, não adianta a disposição, não adianta nem o talento. Sem bola não se consegue jogar futebol.
Talvez tenha sido esta a filosofia de jogo da seleção da Espanha, a campeã da Copa da África. Uma estratégia básica: ficar com a posse da bola o maior tempo possível. Trocar passes sem pressa, sem erros. Porque, sem a bola, o outro time não consegue jogar. Simples assim.
11 julho 2010
As coincidências da vida.

Ezequiel, para quem não sabe, era jornalista sem nunca ter sido. Feroz crítico de música, incansável produtor musical, alucinado amigo e mentor do Barão Vermelho e de Cazuza.
Você já deve ter ouvido falar de Cazuza. Já deve ter ouvido pelo menos uma das suas tantas músicas geniais. Cazuza marcou uma geração do rock nacional. Mais do que isso, marcou para sempre a música brasileira.
Semana passada, completou-se 20 anos desde a morte precoce, mas sempre perigosamente perseguida, de Cazuza. O poeta flertava com a morte, levando sua vida na mesma batida louca de suas canções. Exagerado, ele era mesmo exagerado.
E, por essas coincidências que insistem em nos visitar, o criador Ezequiel Neves morreu exatamente no mesmo dia em que todos lembravam os 20 anos da morte de sua mais genial criatura.
A foto de Cazuza está aqui na minha frente, debochadamente rindo de tudo isso.
A vida brinca com a gente.
05 junho 2010
Sequelas.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Lembro de uma, no verão de 2009, que pousou em meu lábio e o deixou maior que celebridade decadente com excesso de botox.
Mas desta vez foi diferente. A dor foi igual, mas as conseqüências muito piores. Poucos minutos depois da picada na mão, senti o rosto formigando. Também as pernas, as solas dos pés. O corpo começou a esquentar. Coceira generalizada.
Mas se fosse somente coceira, um banho resolveria. E não era. Uma leve tonteira. Deitei no sofá. A Lua sempre perto de mim. Não me largava. Levantei, com a Lua colada. Fui para o pátio de novo. Caminhei de um lado para o outro. Sensação estranha. Um pouco de medo, sem saber o que estava acontecendo.
Resolvi ligar para a Graça, que tinha saído de carro. Pedi para trazer um antialérgico qualquer. Ela estava no mercado, pertinho, aqui nos Ingleses. Veio correndo, não com um antialérgico, mas com o firme propósito de me levar para uma clínica médica.
A Laitano fica a uns 5 minutos de casa, de carro. Fui de carona, completamente cego. Já não via mais nada, tudo branco. Cegueira branca, como escreveu Saramagno.
Cheguei na clínica. Caminhei apoiado até a entrada. Não consegui tirar o cartão da Unimed da carteira. Lembro que me deixaram entrar direto para o atendimento.
Não lembro de muita coisa que aconteceu depois. Disseram que desmaiei duas vezes. Que caí no chão. Lembro de algo como me sentir saindo do corpo. De sentir uma leveza.
Lembro de abrir os olhos e o médico perguntar meu nome. Perguntar onde eu estava, e ele mesmo responder: você está no céu. Disse isso e sorriu, com uma cara de preocupado.
Colocaram em mim uma máscara de oxigênio. Ligaram fios no meu corpo. Deitado, enxergava o monitor do aparelho sobre a minha cabeça. Números e linhas sinuosas.
O médico tirou o aparelho de oxigênio e resolveu ele mesmo usar uma bomba manual. Continuou por alguns minutos assim, bombeando ar para os meus pulmões. Senti uma agulha, era injeção de adrenalina. Senti outra agulha, agora no braço. Soro e Fenergan.
Aos poucos comecei a raciocinar. E guardo as palavras, agora de um médico mais tranquilo: desta você escapou, mas foi questão de minutos. O choque anafilático, pela alergia à picada de vespa, foi poderoso.
Aquela vespa minúscula e anônima deixou como sequela uma certeza: na vida não existem problemas, se há vida.